Pressupostos da recuperação da economia
A economia brasileira sempre teve crescimento considerado medíocre (abaixo de 4% ao ano), exceção apenas aos períodos de 1946 a 1957 e de 1958 a 1978. De 1946 a 1957 tivemos a substituição de importações – necessária, pois o cenário externo, marcado pelas duas grandes guerras, exigiu grande esforço de industrialização dos países. Tivemos, assim, estímulos à fabricação de bens de consumo duráveis e de bens de capital. A partir do crescimento da indústria, teve impulso a economia como um todo, o que levou o Brasil à condição de “em desenvolvimento”. Por sua vez, o período de 1958 a 1978 (do qual faz parte o “milagre brasileiro”, de 1968 a 1973), ficou marcado pelo alto investimento (de 1955 a 1961, o investimento cresceu a uma taxa de 16,6% ao ano, contra 2,25% de 1947 a 1955), realizado em sua maior parte por empresas multinacionais ou financiados por banqueiros internacionais.
Assim, podemos afirmar que, como sempre ocorre em economias periféricas como a nossa, os mais expressivos ciclos de expansão econômica foram causados por conjunturas externas, evidenciando que nos faltam nossos próprios motores para o crescimento. Não conseguimos impulsionar a produtividade, uma vez que pouco desenvolvemos inovações; além disso, sofremos com o menor nível de infraestrutura, com uma legislação trabalhista rígida e ultrapassada, além da precariedade dos serviços públicos essenciais e da alta incidência de corrupção, burocracia e impostos. Isso tudo explica porque nossos ciclos de expansão são geralmente seguidos por crises cambiais, inflação e recessão.
A atual crise tem contornos ainda mais graves, afinal, não é apenas econômica, envolvendo também aspectos políticos, éticos e institucionais. Por isso, a retomada do crescimento irá demorar muito mais do que desejamos. Entretanto, especificamente sobre economia, o caminho para a recuperação está claro:
1. É necessário seguir o ajuste fiscal e, para tanto, é esperada a aprovação da PEC 55 – com a recente aceleração dos trabalhos no Senado, a votação dessa emenda constitucional deverá ser no dia 13.
2. Tudo indica que a União fechará acordo com os governos estaduais para mitigação dos efeitos da crise nessas unidades.
3. O COPOM (Comitê de Política Monetária) sinaliza que vai acelerar a redução dos juros a partir de janeiro de 2017, o que poderá jogar luz ao problema de endividamento das empresas e famílias, bem como da restrição de crédito, impulsionando investimentos e consumo.
4. A proposta de reforma de previdência (bem mais abrangente e dura do que esperado) encaminhada pelo governo trará expressiva economia para o setor público, inclusive no curto prazo – segundo cálculos do próprio governo, a União deverá poupar R$ 46 bilhões nos três primeiros anos e, até 2027, perto de R$ 678 bilhões.
5. O governo federal está preparando algumas reformas microeconômicas para melhorar o ambiente de negócios, como, por exemplo, a revogação da exigência de conteúdo nacional para exploração do petróleo do pré-sal.
Esses encaminhamentos, mesmo não mudando a face de nossa economia, uma vez que não atuam sobre os determinantes de longo prazo, deverão ser capazes de conduzir a retomada do nosso crescimento, estimulando a atividade produtiva e, por conseguinte, o emprego e a renda. Nos resta torcer para que a crise política, ética e institucional permita que isso ocorra.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
2/12 - A volta da instabilidade política
25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica
18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava
11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento
4/11 - O risco Trump
28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica
21/10 - Por que os juros não caíram mais?
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
7/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
19/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões