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Pressupostos da recuperação da economia

09/12/2016 - 15h12

A economia brasileira sempre teve crescimento considerado medíocre (abaixo de 4% ao ano), exceção apenas aos períodos de 1946 a 1957 e de 1958 a 1978. De 1946 a 1957 tivemos a substituição de importações – necessária, pois o cenário externo, marcado pelas duas grandes guerras, exigiu grande esforço de industrialização dos países. Tivemos, assim, estímulos à fabricação de bens de consumo duráveis e de bens de capital. A partir do crescimento da indústria, teve impulso a economia como um todo, o que levou o Brasil à condição de “em desenvolvimento”. Por sua vez, o período de 1958 a 1978 (do qual faz parte o “milagre brasileiro”, de 1968 a 1973), ficou marcado pelo alto investimento (de 1955 a 1961, o investimento cresceu a uma taxa de 16,6% ao ano, contra 2,25% de 1947 a 1955), realizado em sua maior parte por empresas multinacionais ou financiados por banqueiros internacionais.

Assim, podemos afirmar que, como sempre ocorre em economias periféricas como a nossa, os mais expressivos ciclos de expansão econômica foram causados por conjunturas externas, evidenciando que nos faltam nossos próprios motores para o crescimento. Não conseguimos impulsionar a produtividade, uma vez que pouco desenvolvemos inovações; além disso, sofremos com o menor nível de infraestrutura, com uma legislação trabalhista rígida e ultrapassada, além da precariedade dos serviços públicos essenciais e da alta incidência de corrupção, burocracia e impostos. Isso tudo explica porque nossos ciclos de expansão são geralmente seguidos por crises cambiais, inflação e recessão.

A atual crise tem contornos ainda mais graves, afinal, não é apenas econômica, envolvendo também aspectos políticos, éticos e institucionais. Por isso, a retomada do crescimento irá demorar muito mais do que desejamos. Entretanto, especificamente sobre economia, o caminho para a recuperação está claro:

1. É necessário seguir o ajuste fiscal e, para tanto, é esperada a aprovação da PEC 55 – com a recente aceleração dos trabalhos no Senado, a votação dessa emenda constitucional deverá ser no dia 13.

2. Tudo indica que a União fechará acordo com os governos estaduais para mitigação dos efeitos da crise nessas unidades.

3. O COPOM (Comitê de Política Monetária) sinaliza que vai acelerar a redução dos juros a partir de janeiro de 2017, o que poderá jogar luz ao problema de endividamento das empresas e famílias, bem como da restrição de crédito, impulsionando investimentos e consumo.

4. A proposta de reforma de previdência (bem mais abrangente e dura do que esperado) encaminhada pelo governo trará expressiva economia para o setor público, inclusive no curto prazo – segundo cálculos do próprio governo, a União deverá poupar R$ 46 bilhões nos três primeiros anos e, até 2027, perto de R$ 678 bilhões.

5. O governo federal está preparando algumas reformas microeconômicas para melhorar o ambiente de negócios, como, por exemplo, a revogação da exigência de conteúdo nacional para exploração do petróleo do pré-sal.

Esses encaminhamentos, mesmo não mudando a face de nossa economia, uma vez que não atuam sobre os determinantes de longo prazo, deverão ser capazes de conduzir a retomada do nosso crescimento, estimulando a atividade produtiva e, por conseguinte, o emprego e a renda. Nos resta torcer para que a crise política, ética e institucional permita que isso ocorra.

Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:

2/12 - A volta da instabilidade política

25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica

18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava

11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento

4/11 - O risco Trump

28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica

21/10 - Por que os juros não caíram mais?

14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa

7/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias

30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica

23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio

16/09 - O primeiro pacote de concessões

09/09 - O IDEB e os impactos na economia

19/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais

05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros

29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações

22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais

15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável

08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal

01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia

24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira

17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia

10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação

03/06 - No Caminho da austeridade

27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal

20/05 -  Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto

13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento

06/05 -  A premissa da eficiência do gasto público

29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento

22/04 - Os desafios do pós-Dilma

15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas

08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?

01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva

24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança

18/03 - Destaques econômicos em segundo plano

11/03 - Os humores da política

04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia

26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade

19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões

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