Crescimento ou caos econômico: uma escolha política
Projeções de mercado realizadas no início deste ano, apontavam, de forma geral, que 2017 marcaria o início da retomada do nosso crescimento, após uma das mais profundas crises da história do Brasil. O maior risco a essa expectativa, entretanto, não estaria no ambiente econômico, e sim na instabilidade política, a qual poderia determinar impactos negativos sobre o andamento das reformas no Congresso, comprometendo o ajuste fiscal e deteriorando a situação no longo prazo, o que dificultaria gravemente a execução dos investimentos privados, os únicos caminhos possíveis para a recuperação econômica.
Infelizmente, a delação do empresário Joesley Batista, do Grupo JBS, atingindo o presidente Michel Temer, elevou o nível de incertezas políticas e, por causa disso, os efeitos sobre a economia deverão ser diversos. Assim, mesmo não tendo como precisar a magnitude e nem a duração desses impactos, algumas reflexões sobre os principais danos podem ser feitas:
Confiança: a credibilidade no governo Temer vinha sendo a principal razão da recuperação, mesmo que lenta, de nossa economia. Agora, é muito provável que a instabilidade política afete fortemente a confiança de consumidores, empresários e investidores, uma vez que se elevarão os riscos sobre as maiores conquistas observadas até aqui: o controle da inflação, a redução dos juros e a queda do risco de se investir no Brasil. A crise de confiança poderá provocar uma fuga de recursos do mercado financeiro (Bovespa) teve nesta quinta-feira (18) a maior baixa dos últimos 9 anos) e, consequentemente, a desvalorização do Real (dólar teve, também nesta quinta-feira (18), a maior alta em 14 anos, cotado a R$ 3,389) e um aumento nos preços ao consumidor, deteriorando ainda mais o poder aquisitivo da população. Em resumo: alta inflação e crédito restrito. O cenário não poderia ser mais grave.
Reformas: a tramitação das reformas no Congresso está paralisada, em função da avalanche política desta semana, a qual veio justamente no momento em que o governo buscava apoio para aprovação da reforma da previdência e trabalhista (essa, no Senado, uma vez que já havia sido aprovada na Câmara). A reforma trabalhista contribuiria para a livre negociação entre trabalhadores e empregadores, causando impacto positivo sobre o combalido mercado de trabalho, com mais de 14 milhões de desempregados. E, sem a reforma da previdência, o teto dos gastos públicos terá que ser aumentado, tornando o controle das contas do governo uma tarefa ainda mais desafiadora. Ou seja, sem aumento de impostos será muito difícil cumprirmos a meta fiscal deste ano, e estabilizar a relação entre dívida e PIB, evitando o avanço da inflação e o risco de se investir no país (a possibilidade do Brasil se tornar insolvente voltará a assustar os mercados).
Naturalmente, se a cena política é determinante para essas expressivas perdas, também residirá nela a solução para a volta da confiança e dos investimentos, o que manteria a inflação sob controle, os juros em queda, além de evitar uma maior desvalorização do Real. E tudo isso ocorrendo sem aumento de carga tributária.
Portanto, espera-se que o campo político tenha a responsabilidade necessária para conduzir o país para um novo ciclo de expansão econômica e de bem-estar, e não para o caos econômico que insiste em assustar a todos.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
28/04 - Para não aprofundar recessão e desemprego
20/04 - Reformas trabalhista e tributária: para elevar a produtividade
13/04 - Corte nos juros e reforma trabalhista: avanços em tempos de tormenta política
31/03 - O orçamento mais rígido do mundo
24/03 - Mais eficiência e menos tributos: como resolver o rombo de R$ 58,2 bilhões
17/03 - Desafio: cumprir a meta fiscal sem aumento de impostos
10/03 - Retomada, mesmo que lenta e gradual: motivos para acreditar
03/03 - Os números e a realidade da Previdência
24/02 - Superávit das contas públicas em janeiro e a disposição para atingir a meta fiscal
17/02 - A retomada da confiança
10/02 - Monitorando os avanços
03/02 - Medidas microeconômicas do Banco Central melhoram ambiente de negócios
27/01 - Sinais positivos
20/01 - O potencial de crescimento e os seus riscos
13/01 - As boas notícias e os ajustes necessários
07/01 - A retomada virá em 2017
16/12 - Melhoria do ambiente de negócios
09/12 - Pressupostos da recuperação da economia
02/12 - A volta da instabilidade política
25/11 - Crise política: persistente pedra no caminho de nossa recuperação econômica
18/11 - Crise é mais profunda do que se imaginava
11/11 - Endividamento: freio à retomada do crescimento
04/11 - O risco Trump
28/10 - Conter gastos públicos é necessário para a retomada econômica
21/10 - Por que os juros não caíram mais?
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
07/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
18/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
05/05 - Desempenho setorial instável: etapa anterior à retomada econômica
12/05 - Um ano de governo Temer: o que preocupa e o que tranquiliza em termos econômicos