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SESI Ceará destaca importância da saúde mental nas atividades laborais

13/08/2021 - 16h08

Vimos recentemente nas Olimpíadas a atleta americana Simone Biles desistir de provas em prol da sua saúde mental. Como o assunto é pertinente a todos os indivíduos do mundo e envolve tanto atividades pessoais como de trabalho, o SESI Ceará buscou compreender mais sobre o assunto com médico do trabalho e pesquisador da entidade, Dr. Cláudio Patrício.

De acordo com o especialista, atualmente, poucas empresas têm programas específicos de prevenção e promoção de saúde mental. “Infelizmente. Estamos ainda engatinhando neste tema de saúde mental para empresas, algumas têm programas voltados somente para a alta gestão, mas hoje o problema é global, todos sofremos pressão no nosso dia a dia e tem-se percebido aumento nos números de adoecidos mentalmente”, aponta.

Na última pesquisa global sobre transtornos mentais no mundo, o Brasil estava em primeiro lugar em relação ao número de portadores de transtorno de ansiedade. O problema afetava 9,3% da população, o equivalente a 18,6 milhões de pessoas (OMS, 2017). O mesmo estudo ainda informa que os transtornos depressivos foram relatados por 5,8% dos brasileiros, ou seja, 11,5 milhões de pessoas.

Pontos de atenção

Dr. Cláudio Patrício ressalta que um dos principais fatores que observamos na prática é a mudança de comportamento, pois os funcionários ficam mais calados, diminuem a produtividade e podem apresentar, ainda, aumento do presenteísmo e absenteísmo.  “A mudança de comportamento pode ser vista também como aumento da irritabilidade, choro fácil e dificuldade nos relacionamentos internos com os colegas”.

Existe um modelo bem simples, segundo o médico especialista, para entendermos como podem surgir o adoecimento mental nos trabalhadores. É o modelo criado por Robert Karasek, em 1979, que aborda algumas variáveis que são importantíssimas para gerar um aumento do estresse ocupacional.

As variáveis são o controle do trabalho pelo trabalhador em relação ao que lhe é demandado, então, se o trabalho é executado com autonomia, com controle do próprio trabalhador. As demandas, em uma pessoa que tenha capacidade de executá-las, tem pouca chance de aumentar seu estresse, já o contrário, trabalhos sem autonomia em pessoas que não têm capacidade de realizá-los apresentam uma maior chance de aumentar esse estresse ocupacional, o que aumentará a chance de adoecimento.

“Outro fator importante em relação ao trabalho é observar se as metas ou indicadores de produtividade são factíveis, possíveis de serem alcançados com as condições de trabalho, equipe e tempo para executá-los”, indica Dr. Cláudio Patrício.

Papel das empresas

A saúde mental precisa estar dentro do planejamento estratégico das empresas, pois funcionários saudáveis, mental e fisicamente, são mais produtivos. Além de serem mais engajados, alavancam empresas, portanto uma rede de suporte institucional, que utiliza estratégias de comunicação verbal não agressiva, com metas factíveis, possibilidade de crescimento individual, que combate assédios dos diversos tipos são empresas que investem na prevenção deste tipo de adoecimento. O especialista reforça que outro fator importante é que, a partir do momento que se identificam doentes, precisam ser encaminhados ao tratamento e acompanhamento, com psiquiatra e psicólogo, portanto precisamos ter políticas de “desestigmatização” de doentes mentais, com ações que combatem o preconceito que pode aparecer entre colegas e liderança.

O fardo do adoecimento mental das pessoas é visto nas esferas pessoal e laboral. Do ponto de vista pessoal aparecem como dificuldades com sono, distúrbios alimentares, dificuldades nos relacionamentos, alterações no desejo e atividade sexual, humor deprimido, sensações de medo e insegurança. Já na esfera laboral pode acontecer diminuição da produtividade, dificuldades de relacionamento interpessoal no trabalho, aumento de faltas e isolamento.

Pandemia

Ainda há poucos dados com nível de evidência cientifica alta para caracterizar o real impacto da pandemia na saúde mental das pessoas, mas pesquisas iniciais levam a acreditar que os impactos serão importantes. A longo prazo podem ser esperados lutos prolongados, aumento na incidência de depressão resistente a tratamento, condições de transtorno de estresse pós-traumático, abuso de álcool e drogas, aumento da incidência nos transtornos de ansiedade e pânico, transtorno obsessivo compulsivo e burnout dos profissionais que estão na linha de frente.

No artigo, Depression and Anxiety Among Essential Workers From Brazil And Spain During The Covid-19 Pandemic:a websurvey, foi encontrado que sintomas de ansiedade e depressão afetaram 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais durante a pandemia de Covid-19, no Brasil e na Espanha, mais da metade deles — e 27,4% do total de entrevistados — sofreu de ansiedade e depressão ao mesmo tempo. Além disso, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% foram diagnosticados ou se trataram de doenças mentais no ano anterior.

O SESI Ceará hoje disponibiliza atendimentos psicológicos nas empresas e, também, a possibilidade de criação de um programa de saúde mental customizado a necessidade da indústria. Mais informações www.sesi-ce.org.br ou (85) 4009.6300.

Para imprensa:
Carol Kossling
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