Auditórios técnicos do FIEC Summit trazem temáticas como eólica offshore, inteligência artificial no setor de energia, ESG e mais
A programação técnica do FIEC Summit 2024 teve início na tarde desta segunda-feira (12/08) com uma série de palestras com representantes de organizações envolvidas com a pesquisa e o desenvolvimento de soluções para a cadeia do hidrogênio verde e de energias renováveis. Ao longo de 16 palestras, o público presencial e online dos auditórios técnicos A e B pôde conhecer alguns dos principais projetos em desenvolvimento no país, relacionados à descarbonização e à transição energética.
Temas de destaque no mercado internacional marcaram este primeiro dia de palestras, como as possibilidades de aplicação da inteligência artificial no setor de energia, as práticas ESG no setor produtivo, a expansão mundial da utilização de energia eólica offshore e os impactos sociais da nova indústria verde que desponta globalmente.
O professor Célio Cavalcante Jr., do Departamento de Engenharia Química da UFC, apresentou ao público a Rede de Pesquisa e Inovação em Energias Renováveis do Ceará (Rede VERDES), que une 14 instituições de ensino superior e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) no desenvolvimento de pesquisas relacionadas às energias renováveis. O trabalho realizado na rede traz o diferencial de pensar a aplicabilidade das pesquisas na cadeia produtiva.
“Nós pesquisadores, e aqui eu me incluo, normalmente não nos preocupamos com essa última parte da cadeia, da transferência de tecnologia buscando a cadeia produtiva. Mas na rede nós temos essa busca por transformar essas inovações da academia em aplicação industrial”, explicou Célio Cavalcante.
Claudia Honnicke, responsável pelo PD&I em hidrogênio de baixo carbono na Petrobras, ressaltou o caráter processual da transição energética em sua palestra. “Não é possível simplesmente abandonar o uso do petróleo no mundo […]. Então o petróleo é necessário nesse momento de transição e ele serve também para financiar esse processo”.
De acordo com Honnicke, a pauta do hidrogênio é central na empresa: “hoje a Petrobrás é a maior produtora e consumidora de hidrogênio no país. Nossa tecnologia atual utiliza o hidrogênio para tirar o enxofre dos combustíveis e deixá-los mais limpos, então para a gente é importante olhar para rotas de produção de hidrogênio de baixo carbono, porque além de descarbonizar nossas operações, o hidrogênio descarboniza também os combustíveis que são gerados a partir delas”.
A inteligência artificial pautou as discussões na palestra do prof. Enio Pontes, da UFC. O pesquisador falou sobre as diversas aplicações que a IA pode ter no contexto da cadeia de energias renováveis, que vão desde a análise de padrão climático ao gerenciamento e otimização das transmissões solar e eólica.
Segundo Pontes, a IA pode ser usada ainda para acelerar o desenvolvimento de novos materiais aplicáveis nos processos de produção energética. “Ela pode trabalhar com os desafios específicos de diversos materiais que são e podem ser utilizados em energias renováveis”, explicou.
Murilo Luna, professor do Departamento de Engenharia Química da UFC, trouxe uma visão específica do Ceará às palestras, tratando de tecnologias emergentes para a obtenção de energia limpa. O palestrante destacou o potencial que o Brasil e o Ceará possuem para tornarem-se grandes produtores de SAF, combustível produzido a partir de matérias-primas renováveis, como a biomassa ou energia elétrica renovável.
O potencial do Ceará para a produção de energia renovável foi reforçado por Murilo Luna, que destacou o projeto de usina de dessalinização como estratégico para a pauta. “Os desafios da demanda do hidrogeno verde são maiores do que a oferta, e o Ceará não é um polo petroquímico, mas pode ser um polo hidrogenoquímico. Mas isso só vai ser feito se no Ceará for formada uma estrutura de investimento seguro”, alertou.
O tema da dessalinização também foi tratado na palestra de Igor Borges, diretor da Utilitas e PB Construções. A empresa oferece soluções de dessalinização e reuso hídrico para o abastecimento de indústrias, com ênfase para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém e seu HUB de Hidrogênio Verde. De acordo com Igor Borges, “de nada adianta pegar a água de um manancial e depois suspender o envio para a indústria porque compete com o abastecimento humano”, portanto, é preciso pensar em alternativas de fornecimento hídrico para projetos como o do hidrogênio de eletrólise, que requer abundância de água – especialmente em um estado como o Ceará, no qual há populações que ainda vivem em insegurança hídrica.
As discussões sobre os impactos do processo de transição energética também perpassaram as palestras. Daiane Elert, gerente de eficiência energética na Mitsidi, apresentou alguns dados do estudo “Aspectos Sociais para uma Transição Energética Justa na Economia do Hidrogênio Verde”, que levantou e avaliou os possíveis aspectos e impactos sociais relacionados ao desenvolvimento da economia do H2V no Brasil.
Entre os resultados mencionados pela palestrante figuram oportunidades – como geração de emprego e renda, aumento de investimentos em P&D, potencial para aumento da representatividade feminina no setor energético – e pontos de atenção, como o risco de escassez de mão de obra qualificada, as interferências no uso da terra que a instalação de projetos energéticos traz e os impactos sociais da migração motivada por esses projetos.
O Núcleo ESG da FIEC e o processo de certificação da Federação foram mais pontos discutidos nas palestras. Alcilea Farias, coordenadora do Núcleo, destacou que a certificação é “a forma como hoje o mercado cearense não apenas diz que tem práticas sustentáveis, mas prova, e prova através de um processo auditado”. Segundo a coordenadora, o modelo criado no Ceará é hoje repassado para demais federações de indústria do país. Em sua fala, Alcilea destacou ainda o caráter contínuo envolvido na busca por sustentabilidade. “A gente sempre diz que não é uma agenda que está no verbo ser: você ‘está’ sustentável”.
O momento contou ainda com palestras de Fábio Braga, especialista em Inovação do IEL Ceará; Valdeir Ribeiro, head de Desenvolvimento de Negócios para Indústria da Siemens; Felipe Campos de Freitas, gerente de Engenharia e Fábrica na ABB; Marilia Rabassa, head de Consultoria da CELA; Celso Concato, diretor de relacionamento com clientes de grande porte na Eletrobras; Juliana Damasceno, diretora de transição energética na América Latina da WORLEY; Paulo Cesar da Silva, especialista de Desenvolvimento de Negócios da Siemens; Ewerton Calixto, gerente sênior de projetos de hidrogênio na Voltalia; Ocelo Pinho, consultor do Núcleo de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), e Jonas Becker Paiva, presidente da Câmara Setorial de Energia e Fundador da ECO Soluções em Energia.
Fotos: Chico Gadelha