Por que os juros não caíram mais?
Por decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (COPOM) reduziu em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros (SELIC) – a taxa anual passou a ser, portanto, igual a 14%. Essa foi a primeira queda dos juros em quatro anos e, naturalmente, é uma demonstração de que estamos trilhando o caminho da retomada econômica.
Entretanto, alguns segmentos de mercado que esperavam uma maior diminuição nos juros – queda de 0,5 ponto percentual - viram um certo conservadorismo na decisão do Banco Central. Dessa forma, é necessário compreender porque a política monetária não foi mais flexível, a ponto de permitir uma diminuição maior da SELIC.
Segundo o COPOM, uma condição para a queda dos juros é a de que “os componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica retomem claramente uma trajetória de desinflação em velocidade adequada”.
Ou seja, a redução dos juros está condicionada à queda da inflação, notadamente a de serviços. Sobre isso, no primeiro semestre desse ano, a inflação de serviços passou de 8,2% para 7,1%, uma boa redução para um período tão curto. O problema foi que logo depois, ela parou de cair – chegou inclusive a subir para 7,5% em agosto e voltou aos 7,1% em setembro. Esse comportamento dos preços nos serviços está muito relacionado à legislação trabalhista e à indexação. Para ilustrar, vejamos um exemplo: um dono de restaurante fica impossibilitado de reduzir os preços de seus produtos porque teve que conceder aumento de salários aos funcionários e porque o aluguel do prédio foi reajustado por algum índice anual. Nesse caso, o item “despesas com alimentação fora de casa” seguirá impactando negativamente a inflação de serviços.
Outra condição para queda dos juros, segundo o COPOM é que “o ritmo de aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia contribuam para uma dinâmica inflacionária compatível com a convergência da inflação para a meta”.
Nesse caso, o COPOM está deixando claro que é preciso executar os ajustes fiscais e, certamente se refere à PEC que limita os gastos públicos, bem como à reforma da previdência e ao programa de concessões e privatizações, dentre outras ações. Resumidamente, pode-se afirmar que a velocidade de redução dos juros dependerá do avanço no controle das contas do governo.
Por fim, o COPOM ainda citou fatores que favorecem e que desfavorecem a redução dos juros no momento.
Contribuem para a redução dos juros:
- Inflação está mais favorável no curto prazo
- A alta ociosidade da economia pode produzir desinflação maior do que a prevista
- O ajuste fiscal está avançando, com as aprovações das primeiras medidas
Dificultam a queda nos juros:
- A aprovação e implementação das medidas de ajuste fiscal exigem processos longos e com alta incerteza.
- O histórico de inflação alta e expectativas acima da meta dificultam a queda dos preços
- A convergência da inflação para a meta pode ser mais lenta, em função da interrupção de queda nos preços dos serviços.
Confira as edições anteriores da Análise Econômica Semanal:
14/10 - Repatriação e investimentos: reforços no caixa
7/10 - PEC dos gastos e as reformas necessárias
30/09 - O Brasil e o ranking de competitividade econômica
23/09 - Avanços e riscos de um novo modelo de ensino médio
16/09 - O primeiro pacote de concessões
09/09 - O IDEB e os impactos na economia
19/08 - Dívida dos Estados e a necessidade de superar as ineficiências institucionais
05/08 - A queda da inflação e a revisão dos juros
29/07 - Déficit nas contas públicas: solução passa por investimentos e exportações
22/07 - Mudança na SELIC terá que vir acompanhada de medidas fiscais
15/07 - Precisamos aproveitar o cenário favorável
08/07 - Respeito às restrições do orçamento é imprescindível para alcançar meta fiscal
01/07 - O elemento central para a retomada da econonomia
24/06 - O "Brexit" como mais um desafio para a agenda internacional brasileira
17/06 - Sinais de confiança na retomada da economia
10/06 - Foco no cumprimento da meta de inflação
03/06 - No Caminho da austeridade
27/05 - Primeiras medidas evitam agravamento do quadro fiscal
20/05 - Controle das contas públicas e a eficiente gestão do gasto
13/05 - Competitividade, chave para retomada do crescimento
06/05 - A premissa da eficiência do gasto público
29/04 - O equilíbrio que se faz necessário nesse momento
22/04 - Os desafios do pós-Dilma
15/04 - Próximos dias darão o tom sobre as incertezas
08/04 - Um governo novo ou um "novo governo?
01/04 - FUTURO: Uma construção coletiva
24/03 - Não há saída sem a recuperação da confiança
18/03 - Destaques econômicos em segundo plano
11/03 - Os humores da política
04/03 - Efeitos da Lava Jato na economia
26/02 - Até que enfim, um sopro de positividade
19/02 - Programação Orçamentária e Financeira para 2016: cortes de gastos de R$ 24 bilhões